No dia 3 de dezembro, Jean-Michel Jarre anunciou em suas redes sociais, que realizaria no dia 10 de dezembro, uma live para falar sobre os projetos realizados neste ano e os que estão sendo planejados para 2025 e 2026 (veja em Update – 03/12/2024). O anúncio foi repetido no dia 9 de dezembro:
“Junte-se a mim ao vivo aqui no Facebook, ou no meu Instagram ou no canal do YouTube amanhã, terça-feira, 10 de dezembro, às 19:00 CET. Falarei sobre todos os meus projetos deste ano — de Bridge To The Future e a Cerimônia de Encerramento de Paris 2024 ao 40º Aniversário do Zoolook. Responderei às suas perguntas, compartilharei insights dos bastidores e darei algumas dicas sobre o que está por vir no próximo ano. Envie suas perguntas nos comentários e nos vemos amanhã!”
A live aconteceu em seu estúdio, onde esteve rodeado por diversos sintetizadores “Arturia”. Ele ficou particularmente entusiasmado com o “Arturia PolyBrute”, que descreveu como o “Yamaha CS-80 do nosso tempo”. O sintetizador “Nina” da “Melbourne Instruments” também recebeu grandes elogios dele.
Jarre iniciou dizendo que estava feliz em responder as perguntas dos fãs antes do Natal e que gostaria de conversar sobre o que aconteceu no ano de 2024 e os projetos para os próximos meses. Disse que não acredita que já faz um ano do concerto que ele realizou na Galeria dos Espelhos do Palácio de Versalhes e que falaria revezando entre os idiomas inglês e francês, já que muitos fãs franceses estavam acompanhando a live naquele momento.
Um dos temas mais discutidos entre os fãs foi a qualidade da remasterização do álbum Zoolook por ocasião de seu 40º aniversário. Muitas falhas e cliques audíveis nas faixas foram criticados pelos fãs e aparentemente havia versões diferentes de fitas master nas quais também havia diferenças de tempo. Jarre relatou que foram encontradas duas fitas master diferentes: uma analógica e outra digital. Graças à ajuda dos fãs, que apontaram os erros com informações precisas de tempo, finalmente foi possível criar uma master sem os erros. Sobre as críticas ao engenheiro de som David Perreau, responsável pelas remasterizações dos últimos anos, Jarre disse que não poderia compartilhar as críticas. A remasterização é um processo difícil e nem sempre é possível transferir o “calor” das gravações originais para uma remasterização, uma vez que os dispositivos de gravação antigos não podem mais ser usados. Ele elogiou particularmente Perreau por ser o responsável pelas transmissões ao vivo e criar mixagens especiais para shows nas diversas plataformas online. É muito importante para ele que o som seja de muito boa qualidade. Jarre concluiu dizendo que o Zoolook é um de seus álbuns favoritos e o que mais se aproxima de Oxymore non sentido de “música concreta”.
O próximo assunto foi sobre o concerto de Bratislava, que representou um retorno aos seus lendários concertos em grande escala. Ele próprio sempre adorou realizar tais projetos, mesmo que fosse difícil levar em conta as exigências das autoridades, os requisitos de segurança, etc. Neste aspecto ficou muito satisfeito, pois foi o concerto em que conseguiu concretizar grande parte do que imaginava (também do ponto de vista técnico). O destaque foi, claro, a colaboração com o guitarrista do Queen, Brian May, que como astrofísico, está envolvido no Festival Starmus há vários anos. Mas também foi uma novidade para May, porque ele não era o “chefe” do show como sempre, mas teve que se encaixar no show de Jarre. Os preparativos e as discussões pela Internet não foram fáceis, porque Brian ligava frequentemente às três horas da madrugada, quando já eram quatro horas em Paris. A grande novidade é que o concerto está sendo planejado para ser lançado em um box-set com Blu-Ray e também como álbum. Isso está sendo trabalhado no momento e os técnicos de Brian May estão remixando suas partes porque May tem uma ideia muito clara de como sua participação deveria soar e Jarre quer respeitar isso.
Em um determinado momento, Fiona entrega um papel para ele onde está escrito uma lista dos países que estavam conectados naquele instante. Fãs da Rússia, Irlanda, Alemanha, Suécia, Bélgica, Finlândia, Gibraltar, Portugal, Hungria, Colômbia, 🇧🇷 BRASIL 🇧🇷, Grécia, Peru, Polônia, México, Ucrânia, Espanha, Eslováquia, Dinamarca, Reino Unido, Chile, El Salvador, Escócia, Argentina, França, Taiwan, China, Japão e alguns outros países estavam acompanhando a live. Jarre agradeceu e disse que isso é a “mágica da tecnologia”.
Jarre enfatizou diversas vezes que a Inteligência Artificial não deve ser vista como um perigo e que as inovações técnicas sempre causaram medo. Ele comparou a IA com a descoberta da eletricidade, que tornou possível as gravações sonoras e que as gravações foram então descritas como a morte da música ao vivo. Ele não nega que existem riscos, mas defende a compreensão da IA da melhor forma possível, para que se possa avaliar melhor onde é necessário traçar limites. Por exemplo, ele usou um programa de IA chamado “Stable Diffusion” para projetar os gráficos e usou a IA como ferramenta para implementar exatamente as ideias que tinha em sua cabeça e não se tornou um escravo da IA. Ele também compartilhou uma curiosidade da época em que foi o primeiro artista a tocar música eletrônica na Ópera de Paris. Os músicos da orquestra sabotaram os sintetizadores porque se sentiram ameaçados por esta tecnologia.
Outro destaque foi sua participação na Cerimônia de Encerramento das Paralimpíadas. Foi essencialmente um evento desportivo e que teve como objetivo basicamente enviar um último “cartão postal” ao mundo. Além disso, foi tecnicamente difícil devido ao grande número de músicos envolvidos, principalmente sua mudança do palco principal para o palco da Harpa Laser nas arquibancadas. A chuva tornou as coisas ainda mais difíceis e Jarre até brincou dizendo que teve que lidar com a chuva várias vezes durante sua carreira (Docklands, Alborg, Tours…), mas ele não experimentou nada parecido como desta vez. Em pouco tempo, sua jaqueta estava encharcada, a água escorria pela pele, descia para as calças e depois para os sapatos. Foi necessário uma troca de roupa, antes da segunda apresentação, algo que não estava planejado. Ele também decidiu não cobrir os instrumentos com plásticos de proteção ou colocar guarda-chuvas sobre eles, pois isso não ficaria bem para o público. Seu técnico, Patrick Pelamourges, teve que secar os equipamentos com secador de cabelo logo após a apresentação.
Sobre projetos futuros, Jarre surpreendeu os fãs ao revelar o adiamento do concerto que aconteceria no próximo Réveillon em Shenzhen, na China, Jarre disse que passaria cinco anos como curador estabelecendo um festival de música eletrônica que se tornaria uma referência. Como tudo só foi acordado muito próximo da data marcada, ele decidiu adiar para o próximo ano. Além das datas já confirmadas para 2025 (Oslo, Sevilha e Stuttgart), Jarre disse que haverá mais alguns anúncios, para que haja uma espécie de pequena “turnê de festivais” e que as datas serão anunciadas assim que as negociações forem definidas. Poderá haver algumas mudanças musicais e possivelmente também na parte de efeitos visuais. No entanto, ele ainda não lidou com isso de forma mais intensa. Em Shenzhen, por outro lado, será um projeto maior, mais comparável no tamanho com o de Bratislava, mas diferente em termos de espetáculo.
Jarre lembrou que em 2026 será o 50º aniversário do Oxygene e que está planejando uma série de surpresas para isso. Ele não quis adiantar nada no momento, mas manterá os fãs atualizados nos próximos meses. Ele também anunciou um projeto para o próximo ano em torno do álbum Oxymore e da cidade virtual de Oxyville. Mais informações sobre isso poderão ser divulgadas antes ou logo após o Natal.
Quando questionado se haveria mixagens em Dolby Atmos de Oxygene e Equinoxe, Jarre respondeu com um sonoro “não”. Ao contrário do Oxymore, esses álbuns nunca foram projetados para esse propósito. Ele também se pergunta se realmente deveria levar várias semanas para criar tal mix e adiar outros planos. Ele prefere trabalhar em novos projetos em vez de retrabalhar algo antigo.
Uma versão em inglês de sua autobiografia Mélancolique Rodéo está sendo planejada. Jarre indicou que isso poderia ser feito em conexão com o aniversário do Oxygene e que, se encontrar tempo, gostaria de acrescentar novos capítulos. Não disse nada sobre a tradução para outros idiomas como o espanhol, alemão e português. Ele também tem em mente escrever outros livros de diferentes temas.
Jarre também explicou que é um equívoco os fãs pensarem que é ele quem escolhe os locais para seus concertos. São os países e/ou cidades e as produtoras de shows que frequentemente convidam ele. Mas que se pudesse escolher locais para tocar, escolheria países como o Irã ou a Coreia do Norte. Ele acredita que é errado punir “em dobro” as pessoas que moram nestes países através de um boicote. É particularmente importante levar música e cultura para essa população. Mais uma vez referiu-se à sua mãe, France Pejot, que era ativa na Resistência Francesa e que foi presa três vezes pelos nazistas e conseguiu escapar nas três vezes. Ela ensinou ao filho que nem todos os alemães eram nazistas e que não se deve igualar as ideologias políticas de um país com as pessoas que lá vivem. É, portanto, importante para ele levar arte e cultura a pessoas que não vivem em liberdade e que o acesso a movimentos culturais é restrito ou limitado.
Depois que um álbum “Electronica 3” apareceu listado na Amazon da Espanha, muitos fãs pensaram que Jarre estava trabalhando nele. Mas ele deixou bem claro que foi um erro da Amazon e que não há planos para o lançamento de um “Electronica 3” no momento.
Jarre finalizou a live desejando um Feliz Natal e agradeceu aos fãs pela fidelidade e pelo acompanhamento de todas as suas atividades. Disse que vai manter os fãs informados sobre seus novos projetos nas próximas semanas.
Fonte: Jean-Michel Jarre | Agradecimento especial: João Solimeo
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