Relatório pede grandes investimentos à medida que as receitas artísticas caem mais rápido do que em todas as outras indústrias, exceto a da aviação
O setor cultural e criativo da Europa está sendo o mais atingido pela crise do coronavírus do que todas as outras indústrias (exceto a da aviação). De acordo com um estudo encomendado pelo GESAC (Groupement Européen des Sociétés d’Auteurs et Compositeurs – Agrupamento Europeu de Sociedades de Autores e Compositores), será exigido grandes investimentos públicos e privados para evitar danos possivelmente irreparáveis a longo prazo.
Segundo o relatório, as receitas do setor – que inclui TV, cinema, rádio, músicas, publicações, videogames e artes cênicas e visuais – caíram 31,2% no ano passado em relação a 2019. A perda foi mais forte do que o setor de turismo, que perdeu 27% de sua renda.
Apenas a indústria da aviação, onde a receita caiu 31,4%, sofreu mais. O relatório deve ser apresentado à comissão europeia na terça-feira, dia 26 de janeiro.
“A cultura se tornou um recurso escasso na Europa hoje e nós estamos em pior situação”, disse o pioneiro da música eletrônica francesa Jean-Michel Jarre, que entregará o estudo. “Estamos aprendendo da maneira mais difícil o valor verdadeiramente essencial da arte em nossa sociedade.”
Em 2019, antes da pandemia, o setor cultural e criativo da Europa era uma potência em rápida expansão, empregando cerca de 7,6 milhões de pessoas, mais que o dobro dos setores de telecomunicações e automotivos combinados e 700.000 a mais do que em 2013.
O faturamento anual de 643 bilhões de euros cresceu 2,6% ao ano em relação aos seis anos anteriores, representando cerca de 4,4% do PIB global da União Europeia, gerando um superávit para o bloco de mais de 8,6 bilhões de euros.
“No entanto, o que vimos desde então, são as consequências dramáticas de fechar literalmente milhares de locais”, disse o coordenador do estudo, Marc Lhermitte. “A cultura foi o primeiro setor a suspender a maioria de suas atividades, e provavelmente será o último a retomar sem restrições.”
Lhermitte disse que as ondas de choque da Covid foram sentidas em todo o setor, com as receitas caindo 90% nas artes cênicas e 76% na indústria musical. Artes visuais, livros, imprensa, filmes e TV tiveram quedas entre 20% e 40%, enquanto apenas os videogames – cujo volume de negócios subiu 9% – resistiram.
Mesmo os setores que pareciam protegidos pelo consumo doméstico sofreram quedas acentuadas na renda, observou Lhermitte, uma vez que experiências – como performances ao vivo, exposições e exibições – e vendas físicas foram fatores significativos de muitos modelos de negócios e os custos de produção e distribuição se tornaram incontroláveis.
O aumento no consumo digital não compensou a perda de receitas geradas em vendas físicas e eventos. As vendas físicas na indústria musical caíram 35%, mas as receitas digitais aumentaram apenas 8%, enquanto os cinemas europeus perderam cerca de 75% de seus ganhos.
Os royalties arrecadados para autores e artistas por organizações de direitos caíram 35% em 2020, o que significa que muitos sofrerão, inevitavelmente, uma queda acentuada nos lucros nos próximos dois anos, mesmo que os negócios retomem em 2021.
Lhermitte disse que o encerramento antecipado em muitos países de todos os cinemas, teatros, locais de música e museus, e o cancelamento de festivais de verão vitais para a exposição de jovens artistas e artistas em particular, foi “um golpe corporal absoluto” que será sentido nos anos seguintes.
O relatório mostra que, sem uma retomada antecipada da produção e distribuição offline e eventos ao vivo, o investimento em novos projetos corre o risco de desmoronar completamente. Mesmo que os locais reabram em breve, 46% dos entrevistados em uma pesquisa recente, disseram que não se sentiriam confortáveis em ir a um concerto por vários meses, e 21% por vários anos.
Enquanto isso, como mais de 90% dos operadores do setor cultural e criativo são autores e artistas independentes ou pequenas e médias empresas independentes, a mudança online criou “um risco real de que suas relações desequilibradas com plataformas globais de Internet” coloquem em risco esses futuros.
O relatório (que incluiu o Reino Unido, que ainda estava para todos os efeitos na União Europeia), mostra que será vital o fornecimento de financiamento público e incentivo de investimento privado, na recuperação das indústrias criativas e culturais pela União Europeia e seus estados membros “em uma medida que mostre o seu peso e importância”.
Também deve-se agir rápido para estabelecer um “quadro jurídico sólido” para reconstruir a confiança na viabilidade financeira do setor. “O período crítico que vivemos exige medidas verdadeiramente inéditas”, conclui o relatório.
“O setor criativo da Europa nunca conheceu tal devastação econômica no passado, e seus profundos efeitos posteriores serão sentidos ao longo da próxima década.”
Reconstruindo a Europa: A economia cultural e criativa antes e depois da COVID-19 revelará o imenso tamanho e potencial inexplorado das indústrias culturais e criativas da União Europeia. Conferência através do Zoom com @jeanmicheljarre, @jeannoëltronc (Presidente do GESAC e CEO da SACEM) e @marclhermitte (coordenador do estudo).
Está na hora de colocar a cultura de volta aos holofotes.
Fontes: The Guardian | https://www.rebuilding-europe.eu/ | GESAC
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