O grande fotógrafo franco-brasileiro convida você a uma viagem imersiva ao coração da Amazônia, acompanhado por uma criação sonora de Jean-Michel Jarre, na Philharmonie de Paris. Salgado também dá voz aos povos indígenas, ameaçados pelo desmatamento, e defende a necessidade de mobilização para salvar a floresta.
No lugar do fogo, a imensidão das árvores em pé. Em vez de fumaça, tribos indígenas no seu habitat. Em oposição à terra arrasada, descobertas muitas vezes inéditas para a maioria dos brasileiros, como as montanhas mais altas do país, na Serra do Imeri. Abundante, exuberante, impressionante! Ela te pega na entrada, com um clichê suspenso na altura dos olhos. A Amazônia não o deixará então. Em uns 800 m² e 200 imagens, onde desdobra suas nuvens e ergue seus cumes, em todos os tons sutis de cinza e preto, às vezes acariciando, às vezes perturbador. Sempre sublimada pelos olhos do renomado fotógrafo Sebastião Salgado, que apresenta uma grande exposição na Philharmonie de Paris, fruto de sete anos de viagens para pesquisar, sobrevoar, navegar no coração de uma extensão tão grande quanto doze vezes o tamanho da França. A mostra, busca a sensibilização do público para a preservação da floresta pela sua beleza.
Em um cenário imersivo todo em preto e branco, o visitante entra no coração da floresta, ziguezagueando entre fotos como ziguezagueia entre árvores, descobrindo relevos inesperados e “rios flutuantes”. Essas enormes massas de nuvens encharcadas de água liberadas pela umidade das árvores, pairando em cima de ilhas, que degustam a água chuvosa. Para acompanhar essa viagem, Jean-Michel Jarre compôs uma nova criação, inspirada na música concreta, misturando seus sintetizadores com os sons coletados pelos antropólogos do Museu de Etnografia de Genebra na floresta, como o farfalhar das folhagens, gritos de animais e sons de água em cascatas.
“Trabalhamos sete anos para poder mostrar exatamente o que é a Amazônia, principalmente para os brasileiros, que não a conhecem direito. Eles imaginam que a Amazônia só tem rios e florestas, e que tudo é plano. O brasileiro precisa saber disso para a gente poder proteger”, explica a curadora e idealizadora da exposição, Lélia Wanick Salgado – companheira do fotógrafo na vida e nesta aventura.
« Tocamos as pessoas mais com o belo do que com o feio, certo? »
Para falar da sua Amazônia, o fotógrafo franco-brasileiro tem que “apostar no belo”, como diz tão bem Marie-Pauline Martin, diretora do Musée de la musique. Não há imagens de áreas desmatadas ou poluídas. “Queria mostrar a Amazônia viva, descobri-la em toda a sua diversidade, como por exemplo, suas montanhas muitas vezes desconhecidas. E aí tocamos as pessoas mais com o belo do que com o feio, né?”, comenta o fotógrafo. Mas não se engane: “Amazônia” é antes de tudo um trabalho comprometido com a conscientização sobre a necessidade de salvar a floresta.
“É um alerta. Se não percebermos o interesse vital da Amazônia, que está sendo destruída como nunca antes, vamos perdê-la”, diz o fotógrafo. A Amazônia é usada para garantir a umidade e o oxigênio do planeta. Em outras palavras, para garantir o essencial de nossa existência. Todos devem pressionar para que a sua destruição pare. “Vamos levar a exposição para todo o mundo”, diz Salgado.
Quem melhor do que as tribos indígenas que habitam este território (quase 300 povos de várias línguas), para falar do desastre? Incansavelmente, o fotógrafo foi ao encontro destes homens e mulheres, por vezes totalmente isolados, não só para os fotografar, mas também para dar-lhes uma voz.
Na exposição, três “ocas”, uma reconstrução simbólica das casas coletivas tradicionais, divulgam os depoimentos dos líderes tribais. Eles dizem que estão sofrendo toda vez que escutam uma árvore “uivar e cair”, e suas preocupações aumentam com a falta de chuvas, e com as fazendas que estão cada vez mais próximas de suas aldeias.
“Eles são constantemente ameaçados por fazendeiros, por garimpeiros, por seitas religiosas… Eles falam gentilmente, à sua maneira, sem agressividade… Mas com seus arcos e flechas, são totalmente impotentes diante de armas e metralhadoras . É absolutamente necessário protegê-los. E proteger a floresta, caso contrário, eles desaparecerão com ela”, diz o fotógrafo.
« Proteger a floresta é proteger o homem, nos proteger »
Claro, para este artista que há muito está envolvido na salvação do planeta, a destruição contínua da Amazônia abre um debate mais amplo. “É um símbolo enorme. Mas também trabalhei em Sumatra. A floresta de lá foi completamente destruída para produzir óleo de palma usado para fazer chocolate… Temos que sair desse modo de consumo desenfreado, temos que nos controlar, temos que encontrar um novo modelo econômico. Perceber também que proteger a floresta, é proteger o homem, nos proteger. E começar a reconstruir o que foi destruído”, aconselha o fotógrafo.
Salgado começou há mais de 20 anos. Junto com sua esposa Lélia e seu instituto, eles já replantaram quase 800 hectares de árvores na outra grande floresta brasileira: a Mata Atlântica. E agora planejam reviver nascentes secas por um longo tempo. É o suficiente para trazer a esperança de volta à tona.
Amazônia: Exposição de Sebastião Salgado na Philharmonie de Paris, acontece até 31 de outubro, de terça a domingo. A entrada custa 12 euros.
Fontes: Le Parisien|RFI
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