O metaverso, uma contração de meta e universo, e um verdadeiro revestimento digital do mundo físico acessível pela Internet, é objeto de investimentos colossais. O músico, também apaixonado por novas tecnologias, vê isso como uma questão de soberania cultural.
Enquanto os gigantes americanos como o Facebook e start-ups estrangeiras aspiram construir um universo digital paralelo do futuro, Jean-Michel Jarre acredita, em entrevista à AFP (Agence France-Presse), que “devemos fazer urgentemente um metaverso francês”.
Embaixador da start-up russa “Sensorium Galaxy”, apresentada na semana passada na Web Summit em Lisboa, Jean-Michel Jarre é um dos headliners deste universo digital que pretende oferecer experiências de imersão cultural high-end, como exposições ou shows em Realidade Virtual.
“Colaborar com o Sensorium Galaxy não exclui que a minha prioridade seja conseguir autonomia na França e na Europa nestas tecnologias”, especifica o artista. “Acho que precisamos urgentemente criar um metaverso, uma plataforma de Realidade Virtual francesa”, insiste Jean-Michel Jarre, que vê isso como uma questão de soberania cultural.
O metaverso, uma contração de meta e universo, é uma espécie de forro digital do mundo físico, acessível via Internet. Graças, em particular, à Realidade Virtual e Realidade Aumentada, é possível multiplicar as interações humanas, libertando-as de restrições físicas.
Uma plataforma, liderada pelo bilionário Mikhail Prokhorov, deve ser lançada no final do ano. Outros artistas como os DJs David Guetta, Armin van Buuren e Eric Prydz já confirmaram shows exclusivos. Gigantes da tecnologia como o Facebook e empresas de videogames como “Epic Games” ou “Roblox”, também estão investindo quantias colossais para construir seu próprio metaverso.
“Nós realmente precisamos nos atualizar”
Acostumado a shows musicais futuristas, o artista francês de 73 anos já havia produzido um concerto gratuito em Realidade Virtual na digitalizada Notre-Dame de Paris por ocasião do Réveillon, no qual ele apareceu na forma de um avatar. “Para poder transmitir em Realidade Virtual o show que fiz em Notre-Dame, tivemos que passar por uma plataforma americana (YouTube e Facebook) porque não há plataforma social para Realidade Virtual na França. Nós realmente temos que nos atualizar”, insiste.
“Da mesma forma que estávamos na origem do cinema, também devemos estar no início e no nascimento desse modo de expressão que será o principal modo de expressão do século XXI”, acrescenta Jean-Michel Jarre. “Seja através de um fone de ouvido de Realidade Virtual ou óculos de Realidade Aumentada, essa ‘nova estética’ permitirá que você se expresse ‘de uma forma diferente’ em termos de som e imagem e gere uma infinidade de narrativas possíveis”.
“Isso dará origem a novas gerações de criadores e técnicos, com todo um ecossistema econômico que será construído sobre isso”, prevê. “Por exemplo, mais de 150 técnicos foram mobilizados por várias semanas para tornar possível o show virtual em Notre-Dame.”
Coalizão Público-Privada na Coreia do Sul
Diante dos gigantes da tecnologia, existem iniciativas nacionais. “Na Coreia do Sul, foi formada uma coalizão de empresas e instituições públicas no mês de maio sob a liderança do Ministério da Ciência para evitar a dependência de atores transnacionais no exterior”, disse à AFP Nicolas Reffait, sócio responsável pela mídia na BearingPoint (empresa multinacional de consultoria de gestão e tecnologia com sede em Amsterdã, Países Baixos). Chamada de “Aliança Metaversa”, reúne mais de 200 empresas ao lado de campeãs locais como a Samsung.
Complementar às artes cênicas, a expressão artística em Realidade Virtual também tem uma dimensão social para reunir aqueles que estão isolados geograficamente ou por motivos de incapacidade”, argumenta Jean-Michel Jarre.
O quão importa se o equipamento necessário para acessar é caro? “A maioria das milhares de pessoas que acompanharam o show de Notre-Dame não tinham óculos de Realidade Aumentada”, responde o músico. “Um reality show virtual de hoje não é dedicado apenas para as pessoas que têm os óculos especiais, mas também àqueles que podem viver esse momento com um laptop ou com o seu smartphone”.
Entrevista na Web Summit (ative as legendas para o português):
Fontes: Le Monde|Cointelegraph
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