Falando para ao jornalista musical canadense Larry LeBlanc, no site americano www.celebrityaccess.com, o músico francês Jean Michel Jarre, atual presidente do CISAC, discutiu longamente sobre os direitos autorais e a entidade na qual acabou de ser eleito, poderá ajudar os artistas e governo de todo o mundo a chegarem a uma solução justa sobre suas compensações pela criação de artes. A conversa foi praticamente quase sobre isto, mas Larry Leblanc foi além do que os jornalistas têm perguntado atualmente e que temos postado aqui nos últimos dias, Jarre acabou fazendo revelações sobre sua carreira de músico, Oxygene, China e seus planos futuros incluindo o concerto de Cartago.
Alguns trechos interessantes:
É verdade que você gravou “Oxygene” em um home-studio e teve dificuldades em arrumar uma gravadora?
JMJ – Foi na época em que ainda não havia tradição em termos gravações em casa-estúdio (home-studio). Eu gravei “Oxygène”, no meu primeiro estúdio em casa em meu apartamento (na Rue de la Trémoille, perto da Champs-Élysées), em uma casa velha que eu transformei em estúdio. Isto foi recusado por muitas editoras.
O álbum entrou em choque com tudo que estava acontecendo no momento?
JMJ – Isso é correto. Foi logo no início dos movimentos punk e disco. Ele foi recusado por quase todas as gravadoras os com executivos dizendo: “O que é isso? Não é feito (gravado) com instrumentos reais. Você não tem cantores, e sem bateria.As canções duram sete ou oito minutos elas não terão chance na rádio”. Uma pequena gravadora (Disques Motors) levou o projeto adiante, e depois você sabe o resto da história.
Os Sintetizadores só eram populares com alguns artistas de vanguarda, correto?
JMJ – Foi na época em que os sintetizadores não eram os computadores como conhecemos agora. Estávamos basicamente fazendo música com osciladores e outras coisas como em um laboratórios ou hospitais onde poderíamos rodar motores estranhos em máquinas fazendo barulho.
Fomos considerados um bando de malucos fazendo barulhos estranhos e sons com máquinas estranhas. O que realmente me convenceu, e realmente me surpreendeu na época foi que eu estudei com Pierre Schaeffer. Eles (no Groupe de Recherches Musicales) foram os primeiros que estavam dizendo que a música não é feita apenas de notas, mas por sons, e que a diferença entre o ruído e a música está na mão do músico. Isso foi absolutamente louco naquele momento, mas se você olhar para o que está acontecendo hoje, o engenheiro de som é parte da nova cena eletrônica. A maior cena musical de hoje é a cena de música eletrônica do DJ, e este (o conceito de som) é absolutamente parte do dia-a-dia da vida de um músico de hoje.
Naquela época, músicos como você e Frank Zappa, bem como Kraftwerk e Tangerine Dream eram rebeldes musicais. Temos alguns rebeldes de hoje na indústria da música.
JMJ – Isso é um ponto muito bom, Larry. É um ponto muito bom, porque a palavra rebelde é muito apropriada. Precisamos restaurar este tipo de atitude rebelde que sempre tivemos.
Talvez, devêssemos usar a palavra francesa, “provocateur“(provocador).
JMJ – Isto é exatamente correto. “Provocateur“. A palavra francesa para isso. Precisamos restaurar essa imagem. Porque isso também é um dos nossos principais ativos, um dos nossos principais pontos fortes no enfrentamento à internet e enfrentando a tudo isso. Como eu disse anteriormente, um telefone inteligente é muito menos inteligente sem os criadores de conteúdo.
Você tocou na China em 1981 e 2004.
JMJ – Eu fui o primeiro músico ocidental a tocar China logo após a queda da Gang dos quatro, em 1981. Era como tocar na lua nesta época. Pessoas haviam sido cortadas do ocidente por 25 anos.
Como os chineses ouviram você no começo?
JMJ – A Embaixada Britânica deu para a Rádio Beijing, cópias chinesas de minhas gravações (“Oxygene” e “Equinoxe”), eles tocaram minha música. Foi a primeira música ocidental a ser executada nas rádios da China. Então, fui convidado por uma classe de mestres do Conservatório de Música de Pequim. A partir daí, eles decidiram me convidar para alguns shows. Isto aconteceu no início da era de Deng Xiaoping. Então eles fecharam o país novamente.
Mantive muitos contatos com artistas, escritores e músicos de lá. Fui convidado para tocar lá (China) mais uma vez em 2004, na Cidade Proibida. Foi depois de 1989 (protestos na Praça da Paz Celestial). Pedi a todos os meus amigos chineses – artistas, escritores e músicos – se era a coisa certa a se fazer depois do Massacre em Tian’anmen. Todos eles disseram que sim. “Você é conhecido na China, e você não é chinês. É uma boa maneira de marcar a nossa presença como artista no centro de Pequim.”
Os problemas dos direitos autorais é um território novo para os chineses.
JMJ – Tudo é uma questão de tempo com a China. No momento, com a minha equipe, temos um grande número de diferentes contatos com os chineses. Nós sentimos que eles querem ser parte do sistema mundial de publicações dos direitos de autor e tudo mais. Olhe para o que está acontecendo com a Coréia, o que não está tentando tirar artistas em todo o mundo. É uma situação passo a passo. Eles (chineses) estão controlando tanto seu país que pode ser um problema em termos de direitos humanos. Por outro lado, eles estão prontos – ainda mais do que nós mesmos – para controlar propriedades intelectuais. E eles estão dispostos agora.
Todo o caminho de volta para seus primeiros álbuns, “Oxygene ” e ” Equinoxe” ?
JMJ – Eu costumava ser co-editor até a 15 anos atrás, e em seguida, me tornei meu próprio editor.
No mês passado, depois de entregar o comando da Estação Espacial Internacional(ISS), antes de voltar para casa, o astronauta canadense Chris Hadfield lançou um videoclipe gravado na ISS com o cover de David Bowie “Space Oddity”. Será que você teve um momento de flashback de sua colaboração com astronauta Ron McNair em 1986?
JMJ – Quando eu ouvi sobre o astronauta querendo tocar a música, obviamente, me fez lembrar deste momento muito difícil, mas também onde tive alguns momentos muito emocionantes. Eu poderia escrever um livro para cada um dos meus shows, este concerto em Houston (1986) é absolutamente formidável por causa da ligação com a NASA. Pela primeira vez na história da NASA, ela quis ser parte de um evento cultural. Nós tivemos essa idéia de ter um link ao vivo no espaço, e uma canção executada, não apenas como um engenheiro e um cientista, mas também um artista tocando saxofone ao vivo. Foi realmente comovente. Escrever um pedaço de saxofone para a NASA é bastante desafiador para um músico.
Então nós fizemos isso, e Ron estava ensaiando até o último minuto. “Ok, eu vou dar-lhe um encontro no espaço”, que foi um tempo para brincamos juntos. Comigo em Houston, no palco sobre o horizonte da cidade, e ele no espaço. Ele disse: “Olhe para mim na televisão para a decolagem.” E foi desafiador, e vimos a tragédia. Estávamos todos em lágrimas. Eu queria cancelar a coisa toda. Os astronautas em Houston disseram: “Você tem que seguir em frente. Você tem que fazer este concerto em homenagem aos astronautas”. Foi muito comovente.
Você estará tocando na Tunísia em 12 de agosto de 2013 no Festival de Cartago. Vai estreiar novas obras?
JMJ – Eu decidi parar depois de uma longa turnê que terminou a 18 meses e preparar uma nova música. Eu estou trabalhando em dois novos álbuns nos dias de hoje. Eu tinha decidido não fazer qualquer concerto este ano. Então me pediram este Festival Cartago, na Tunísia e porque é Património Mundial da UNESCO, e eu como sou o embaixador da ONU para a UNESCO, fiz uma exceção. Assim, não existem muitos shows por lá. Então eu decidi fazê-lo. NÃO será com o novo material. Eu estou guardando para o lançamento do meu próximo álbum, que, esperamos, sairá até o final deste ano (2013) ou no início do próximo ano(2014). Então eu vou estar fazendo uma turnê, provavelmente nos Estados Unidos e no Canadá, em 2014.
Seu álbum de 2000 “Métamorphoses” foi uma partida do seu passado musical, será que estes novos álbuns também serão novas partidas?
JMJ – Eu tenho todos os tipos de materiais novos em meus próprios tubos para enviar para todos os outros tubos (distribuição) nos próximos meses. Estes dias, você tem tantas coisas disponíveis no mercado. Se você não tem nada de especial para dizer, não libere filmes, livros ou registros. Tenho muitas músicas que eu quero liberar. Eu compus muitas coisas que eu quero compartilhar com o público e em algumas colaborações. Também fazer alguns projetos de trilha sonora.
Talvez, vamos ouvir o lado “Provocateur” de sua personalidade criativa.
JMJ – Eu espero que sim. Essa é exatamente a palavra.
Entrevista completa pode ser lida em inglês aqui:
http://www.celebrityaccess.com/members/profile.html?id=641&PHPSESSID=9s7e042g8hivi4qsqibiinn052
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