Desde as primeiras experiências sonoras até o dub e o techno, a música eletrônica tem uma longa linhagem musical que está sendo celebrada com uma exposição em uma cidade alemã ligada às origens do gênero: Düsseldorf.
Depois da Philharmonie em Paris, do Parco della Bissuola em Veneza, e do Design Museum em Londres, a Exposição de Jean-Yves Leloup, que foi projetada com a colaboração de Ralf Hütter, co-fundador do Kraftwerk, chega ao Museu Kunstpalast em Düsseldorf, Alemanha. A mostra foi aberta ao público no dia 9 de dezembro de 2021 e vai até 15 de maio de 2022. Como aconteceu das outras vezes, a Exposição passou por mudanças e evoluções, começando pelo seu nome: foi intitulada “Electro: From Kraftwerk to Techno”.
A música eletrônica é um desses gêneros sobre os quais as pessoas respondem “tudo menos isso”. Se perguntar a alguém de que tipo de música ela gosta, muitas vezes a resposta é: “tudo menos sertanejo” ou “tudo menos música clássica”. Com freqüência também se ouve: “tudo menos música eletrônica”. Mas a pessoa pode não ter notado que ela já ouve música eletrônica frequentemente.
A música eletrônica (ou electro) é cercada de preconceitos: de que é monótona e unidimensional, muito fria ou algo que só pode ser apreciado sob efeito de álcool ou drogas em uma discoteca escura. Esses clichês são tão comuns como o de que esse gênero originou-se nos anos 1980.
Mas a música eletrônica é muito mais abrangente e tem uma longa e diversificada história, que está sendo explorada na exposição. A mostra mapeia os mais de 100 anos de história da música eletrônica, desde seus primórdios até composições feitas por Inteligência Artificial.
DO THEREMIN AO HAMMOND
As primeiras experiências com geradores eletrônicos de som ocorreram em meados do século XIX e levaram ao desenvolvimento dos pianos eletromecânicos, que antecederam o teclado eletrônico.
Um dos mais famosos instrumentos eletrônicos pioneiros foi o eterofone, mais tarde batizado de Theremin em homenagem ao seu inventor, o russo Leon Theremin (1896-1993). Desenvolvido nos anos 1920 em Leningrado, o som parece emergir como por magia. O aparelho tem duas antenas e um oscilador, e os movimentos das mãos interrompem as vibrações elétricas, modulando o som.
Logo depois, o russo Friedrich Trautwein (1888-1956) criou o trautônio, um precursor do sintetizador, tocado com um fio em vez de teclas, que também foi essencial para a música eletrônica.
Também foi importante nessa fase inicial o órgão eletromecânico Hammond, desenvolvido em 1935 como alternativa a um órgão de igreja, que se tornou parte essencial do blues, do jazz e da música funk.
DO KRAUTROCK AO DUB
Enquanto nos Estados Unidos compositores como John Cage (1912-1992) e Steve Reich estavam ampliando os limites do gênero, na Europa a música eletrônica do pós-guerra é associada ao nome de Karlheinz Stockhausen (1928-2007), um pioneiro em experimentações sonoras no Estúdio de Música Eletrônica em Colônia (Alemanha).
Influenciados pela New Music, muitos representantes do rock experimental e Krautrock (nome genérico atribuído às bandas experimentais na Alemanha do fim da década de 1960 e do começo da década de 1970) também usaram elementos eletrônicos nos anos 1960 e 1970. Em seguida, bandas como The Who e depois Pink Floyd na Inglaterra, usaram fitas reproduzidas na ordem inversa, sintetizadores e samples.
Nos anos 1970, o bastão da música eletrônica foi passado para Düsseldorf, onde o Kraftwerk, em seu estúdio Kling-Klang, desenvolveu o som que moldou decisivamente a música eletrônica até os dias de hoje.
Enquanto o rock experimental e bandas de Krautrock como Can ou Neu! adicionaram teclados em seu monótono som motorik, foi o Kraftwerk que deu ao gênero a popularidade e credibilidade mundial.
Artistas tão diversos como David Bowie (1947-2016), Afrika Bambaata, Joy Division, New Order, Depeche Mode e Blur foram inspirados pela banda eletrônica alemã. O jornal “The New York Times” descreveu uma vez como “os Beatles da música eletrônica dançante”.
“Pense na banda como um técnico de laboratório sintetizando o DNA que forneceu o código para o rap, o disco, o electro-funk, a new wave, o industrial e o techno“, escreveu o jornal americano.
Os artistas franceses também foram centrais para a renascença da música eletrônica. Jean-Michel Jarre trouxe o sintetizador para o mainstream com álbuns revolucionários como Oxygène, antes da popularização do French House por artistas parisienses como Laurent Garnier, Air e Daft Punk.
Enquanto isso, na Jamaica, produtores e músicos pioneiros como Lee “Scratch” Perry (1936-2021) inventaram a música dub aplicando efeitos eletrônicos a versões instrumentais de músicas reggae.
Nos Estados Unidos, as cidades de Detroit e Chicago desenvolveram cada uma as suas próprias variedades de músicas techno e house, que tiveram grande influência na crescente cultura da Electronic Dance Music (EDM) na Europa, e especialmente em Berlim, capital do techno, onde a Love Parade se tornou a maior festa EDM do mundo.
SUCESSOS POPULARES E BATIDAS DE TRIP-HOP
Inúmeros subgêneros de EDM, incluindo acid house, drum’n’bass, dubstep, trance e two-step definiram uma nova e crescente cultura mundial de rave nos anos 1990.
Enquanto isso, as batidas de downtempo dub e as paisagens sonoras experimentais moldavam o novo som de trip hop que saiu de Bristol com bandas como Massive Attack e Portishead, e da dupla austríaca Kruder & Dorfmeister.
Por volta da virada do milênio, bandas britânicas como The Prodigy, Chemical Brothers e Radiohead combinaram eletrônica e rock, enquanto a islandesa Björk e o artista americano Trent Reznor infundiram elementos indie e rock com batidas elétricas, sons de computador e sintetizadores.
E em Berlim, Atari Teenage Riot e a cantora e compositora canadense Peaches construíram pontes entre a arte da performance, o punk e o techno.
GÊNERO MUSICAL SEMPRE EM EVOLUÇÃO
De volta a Düsseldorf, onde bandas como Kraftwerk e Neu! tornaram a cidade sinônimo dos primórdios da música eletrônica, a exposição “Electro: From Kraftwerk to Techno” presta agora tributo à ascensão deste fenômeno musical inovador.
As mais de 500 peças em exposição no Museu Kunstpalast incluem instrumentos, geradores de som caseiros, fotografias, gravações de áudio, vídeos e peças de arte visual. Visitas guiadas com grupos não são possíveis por causa da pandemia. Como alternativa, o Museu oferece visitas guiadas ao público ao vivo por videoconferência. Objetos selecionados e obras de arte são apresentados com base em ilustrações. Esta introdução digital é uma preparação perfeita para o acompanhamento de uma visita individual à exposição e tem duração de uma hora. Há várias estações de áudio na mostra e por razões higiênicas, os visitantes devem levar seus próprios fones de ouvido. Devido à atual situação da pandemia, os ingressos devem ser reservados com antecedência. Uma outra opção, é uma passeio de duas horas pela cidade onde os arte-educadores levam os visitantes a lugares especiais em Düsseldorf que têm conexão com os objetos e obras de arte mostrados na exposição.
“Electro: From Kraftwerk to Techno” é acompanhada por um catálogo de 100 páginas (em alemão) com inúmeras ilustrações. Com prefácio de Felix Krämer (historiador e curador de arte britânico), o catálogo traz textos de Alain Bieber (Diretor Artístico do Museu Kunstpalast), Louis Chude-Sokei (escritor e estudioso nigeriano), Laurent Garnier (produtor e DJ francês), Jean-Yves Leloup (teólogo, escritor e tradutor francês), Johann Merrich (compositora de música eletrônica italiana) e Anna Schürmer (cientista cultural e jornalista musical) . O catálogo não está disponível em livrarias e pode ser adquirido no link https://shop.kunstpalast.de/kataloge/katalog-electro-von-kraftwerk-bis-techno.html
Ingressos para a exposição podem ser adquiridos no link https://shop.kunstpalast.de/korona?time_ticket_cat=Kunstpalast&time_ticket_cat2=Kunstpalast
MUSEU KUNSTPALAST
Ehrenhof 4-5
40479 Düsseldorf (Alemanha)
De terça a domingo das 11:00 às 18:00
Fontes: dw.com|kunstpalast
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