Jean Michel Jarre colabora com colegas pioneiros em ‘Electronica’

Artigo da rádio norte-americana NPR, publicado no site da emissora com a transcrição da transmissão em 22 de junho de 2016.

REVISÕES MUSICAIS

– Por TIM GREIVING

Jean Michel Jarre ajudou a levar a música eletrônica ao mainstream com seu álbum Oxygene, de 1976. Seu último projeto, Electronica, Volumes 1 e 2, apresenta alguns dos seus colegas pioneiros.

ESCUTE A TRANSMISSÃO AQUI:

TRANSCRIÇÃO

oxygene-1976_002

(Trecho de “Oxygene”)

AUDIE CORNISH, anfitrião:

Este álbum ajudou a tornar o sintetizador a parte mais importante das partituras de música pop e do cinema há 40 anos. Seu nome é “Oxygene”. Fez do seu criador, Jean-Michel Jarre, um dos artistas mais influentes da música eletrônica.

(Trecho de “Oxygene”)

CORNISH: Agora Jarre lançou “Electronica Volumes 1 e 2”. Tim Greiving relata que os álbuns apresentam colaborações com alguns grandes nomes, mas também fornecem uma maneira para Jarre se reconectar com seu pai.

Electronica kit1

TIM GREIVING, por telefone: Jean-Michel Jarre lançou “Electronica 1” no outono passado. Ele apresentava predileção por Tangerine Dream, Moby e o cineasta John Carpenter. A segunda parte acabou de sair e nela Jarre trabalha com Pet Shop Boys …

(Trecho de “Brick England”)

https://www.youtube.com/watch?v=cLYyZv8uFIk

GREIVING: … com o compositor de cinema Hans Zimmer …

(Trecho de “Electrees”)

https://www.youtube.com/watch?v=HQ0CrJTuVdM

GREIVING: … É um músico que alcançou as 10 mais em 1979 com esta canção.

(Trecho de “Cars”)

GARY NUMAN:

https://www.youtube.com/watch?v=Ldyx3KHOFXw

GREIVING: Gary Numan era um dos favoritos de Jean-Michel Jarre.

numan-jarre

Jean Michel Jarre: Ele é, para mim, uma espécie de herói moderno que escapou de um romance de Philip K. Dick ou um tipo de replicante de “Blade Runner” – um replicante que canta. Ele tem esse toque único de criar uma espécie de sensação nostálgica em um ambiente futurista.

GREIVING: Gary Numan retribui o elogio.

NUMAN: Eu fiquei muito impressionado ao receber um e-mail de Jean-Michel Jarre, pra começar. Você sabe, ele é uma grande lenda. Ele me mandou uma faixa, uma música na qual ele tinha trabalhado e que me disse que tinha sido feita comigo em mente.

(Trecho de “Here For You”)

NUMAN: 

NUMAN: Depois de todos esses anos, ele ainda tem um som muito identificável. Mas ele estava na frente no jogo. Você sabe, eu sou considerado um pioneiro. Ele estava fazendo isso anos antes de mim e seu conhecimento é fenomenal.

GREIVING: Jarre diz que o projeto de dois CD tenta englobar a grande amplitude que eletrônica significa.

Jarre: Você tem duas faces da música eletrônica – o lado mais hedonista, que é o fato de que nós queremos dançar até o final da noite, usando sons eletrônicos para isso. E há também um lado mais político talvez.

GREIVING: Então para “Electronica 2”, ele estendeu a mão para o denunciante da NSA Edward Snowden. Jarre visitou Snowden em seu esconderijo em Moscou e gravou-o falando sobre os motivos de ter exposto os métodos de coleta de dados do governo dos EUA.

Jean-Michel_Jarre_&_Edward_Snowden

Jarre: Quando você tem um jovem, eu quero dizer, questionando o poder constituído por amor ao seu país, não para dizer para parar, mas para dizer para ter cuidado com o abuso da tecnologia, eu acho que isto merece ser exaltado.

https://www.youtube.com/watch?v=YNESMafb5Z

(Trecho de declarações gravadas)

EDWARD SNOWDEN: Porque os direitos não são apenas individuais. Eles são coletivos. E o que pode não ter valor para você hoje pode ter valor para toda uma, quem sabe?, população, um povo inteiro ou todo um modo de vida amanhã. E se você não defendê-lo, então quem o fará?

Jarre: De uma forma estranha, Edward Snowden me fez pensar sobre a minha mãe porque minha mãe era uma grande figura na resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial. E a maioria das pessoas naqueles dias consideravam a resistência causadora de problemas, alguns até mesmo como traidores.

GREIVING: A mãe de Jarre o criou sozinho na França. Seu pai se mudou para os Estados Unidos quando Jean-Michel tinha 5 anos e não manteve contato algum com o filho.

Jarre: Às vezes, é melhor ter uma figura paterna contra a qual se rebelar do que nada, do que apenas um buraco negro ou uma ausência. Então, ele nunca teve uma influência tão grande na minha vida como músico – talvez no nível de cromossomos, mas não mais que isso.

GREIVING: No entanto, há uma estranha conexão desenvolvida através do diretor australiano Peter Weir. Quando Weir fez o seu filme épico de guerra “Gallipoli”, acabou jogando fora a trilha sonora original do filme porque se apaixonou por um trecho de “Oxygene”.

galipoli

Peter Weir: Eu podia ouvir a música de Jean-Michel – sua magia, sua leveza, seu tipo eletrizante de vitalidade e mistério.

(Trecho de “Oxygene 4”)

GREIVING: Foi pura coincidência que, em seu filme seguinte, Weir procurasse Maurice Jarre, mais conhecido por suas trilhas para filmes como “Lawrence da Arábia” e “Dr. Jivago”. Eles acabaram trabalhando juntos em um total de cinco filmes, incluindo “Sociedade dos Poetas Mortos“ e “A Testemunha”. Foi em “A Testemunha” que Maurice Jarre começou sua própria exploração de sintetizadores. Mas ele nunca pediu conselhos para seu filho. Ainda assim, Peter Weir diz que não significa que (Maurice) Jarre não pense em seu filho.

WEIR: Certamente havia dor ali. Doía em Maurice – obviamente pensava nele e, sem dúvida o admirava. Quero dizer, você não podia fazer nada, apenas admirar o trabalho que Jean-Michel tinha feito que alcançou algum tipo de projeção extraordinária, com “Oxygene”.

GREIVING: Jean-Michel Jarre diz que os álbuns “Electronica”, que teve grande parte gravada em Los Angeles, onde Maurice Jarre passou a maior parte de sua carreira, acabou sendo uma maneira de se conectar com seu pai.

Pai e filho, músicos talentosos
Pai e filho, músicos talentosos

Jarre: Meu pai faleceu há seis anos, e é realmente estranho, porque sem nenhum tipo idéias esotéricas de ou sentimentos, eu me sinto hoje que uma parte dele está em mim e que todo este projeto “Electronica” tem sido uma espécie de – como eu poderia dizer? – uma espécie de viagem de iniciação, na qual ele está comigo. E num certo sentido, é um tipo de colaboração abstrata com a presença aqui do meu pai.

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Fonte: http://www.npr.org/2016/06/22/483129513/jean-michel-jarre-collaborates-with-fellow-pioneers-on-electronica

Agradecimentos pela tradução Raphael Barbosa

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