O resultado das expedições fotográficas de Sebastião Salgado pela Amazônia brasileira chega ao SESC Pompeia, em São Paulo, neste mês de fevereiro. A exposição foi inaugurada em maio de 2021 na Philharmonie de Paris, e atualmente está montada no Museu MAXXI, em Roma e no Museu da Ciência, em Londres. Em julho, a mostra segue para o Rio de Janeiro, no Museu do Amanhã,
Além das mais de 200 fotografias que retratam belíssimas paisagens e a vida das comunidades indígenas, a mostra apresenta sete depoimentos em vídeos originais de lideranças indígenas sobre os problemas que enfrentam para sobreviver na floresta, alertando sobre a urgência de ações para garantir a proteção e a preservação dos índios. A exposição apresenta retratos de 12 grupos indígenas: Asháninka, Awá-Guajá, Korubo, Macuxi, Marubo, Suruwahá, Yanomami, Yawanawá, Zo’é e o Xingu, que inclui o Waurá, Kuikuro e Kamayurá.
“Amazônia” é o mais recente projeto fotográfico do premiado artista brasileiro, reconhecido mundialmente por suas imagens em preto e branco que estabelecem um diálogo entre a natureza e o homem, publicado em livros como “Outras Américas” (1986), “Trabalhadores” (1993), “Êxodos” (2000) e “Gênesis” (2013). A mostra, concebida pela curadora e cenógrafa Lélia Wanick Salgado, oferece uma imersão na floresta a partir de imagens de grande formato ao redor de espaços concebidos como ocas indígenas.
Sua ideia era também criar uma interação com a paisagem sonora amazônica através de uma trilha sonora composta pelo músico francês Jean-Michel Jarre, baseada em sons originários da floresta tropical, como o barulho de árvores, canções de pássaros, os gritos dos animais e o rugido das águas. Há também dois espaços com projeções fotográficas: um deles mostra paisagens florestais definidas para a música pelo poema sinfônico “Erosão (Origem do Rio Amazonas)”, do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959). O outro apresenta retratos de povos indígenas, com uma composição original do músico Rodolfo Stroeter.
Não são as imagens da Amazônia em chamas que nos acostumamos a ver nos últimos anos, em meio à alta de queimadas, que Sebastião Salgado traz agora para o público brasileiro. A Amazônia em preto e branco do fotógrafo é essa paisagem grandiosa, fora de qualquer escala humana, cortada por rios que parecem cortar a terra e o céu, enredada por uma neblina que engole seus grandes montes. “Tenho a esperança de que minhas fotografias traduzam essa generosidade da Amazônia”, afirma ele, que abre a exposição oficialmente no dia 14 de fevereiro (para o público, a abertura será no dia seguinte).
Foi para reforçar essa grandiosidade da selva que Lélia Salgado pensou numa iluminação que emanasse das próprias imagens, todas penduradas no teto. E é num tom idílico que Sebastião retrata e narra esse espaço misterioso, para onde viajou cerca de 60 vezes em sete anos. “A Amazônia é um paraíso, a Amazônia não tem doenças. As que existem foram trazidas de fora.”
Há décadas essa visão que ele tem da floresta vem sendo construída. Salgado começou a fotografar a Amazônia ainda nos anos 1980, mas intensificou suas expedições no início dos anos 2000 durante o projeto “Gênesis”, feito em lugares intocados do planeta.
“Voltando para fazer essas fotografias eu constatei uma grande ferida na Amazônia, ela estava machucada. Vi regiões que, naquela época que eu tinha trabalhado, eram florestas totalmente virgens, e elas já estavam bem destruídas. Aí vi que era o momento de fazer um trabalho maior”. A exposição mostra esse percurso de quem foi descobrindo as entranhas da floresta. As imagens aéreas, com os impressionantes rios voadores e chuvas torrenciais, se encaminham para as fotografias das imensas copas de árvores, adentrando a selva amazônica.
“A minha maior curiosidade, ainda nos anos 1980, era em relação ao ser humano que eu ia encontrar dentro da Floresta Amazônica, e que era um ser humano que eu imaginava muito diferente de mim”, diz ele. “Mas descobri imediatamente que elas eram exatamente como eu. Tudo o que era sério e essencial para mim era sério e essencial para eles.”
Nas fotografias de Salgado, os povos indígenas aparecem ora cercados pela mata gigantesca, ora em estúdios que ele conta ter montado embaixo de árvores — e que retiram esses povos do contexto de onde vivem.
“A riqueza ornamental dessas populações é imensa, e quando a floresta também tem essa riqueza, um de frente ao outro, às vezes não é possível dar um destaque”, diz ele, sobre o porquê isolou os indígenas em alguns de seus retratos. “Eu ficava sentado no estúdio esperando quem quisesse ser fotografado, e ali eu deixava cada um se colocar à sua maneira, como ele quisesse ser fotografado.”
Todas as cores desses adornos de povos originários e também da floresta desaparecem na já conhecida estética em preto e branco das fotografias de Salgado.
É um preto e branco que, na vida real, não existe, lembra o fotógrafo. “Sou obrigado a entrar nesse mundo fantasma para poder restituir a realidade do que estou vendo. O preto e branco é uma ficção, e sou obrigado a entrar na ficção para me concentrar.”
Durante uma entrevista para o portal UOL, Salgado deu mais detalhes da exposição:
SEBASTIÃO SALGADO – AMAZÔNIA
Quando: 15/02 a 10/07
Horários: Terça a sábado: 10h às 21h. Domingos e feriados: 10h às 18h
Onde: SESC Pompeia (Rua Clélia, 93 – Pompeia, São Paulo – SP)
Preço: Gratuito
Estacionamento: A Unidade não oferece serviço de estacionamento próprio. No entanto, existe um convênio para desconto no estacionamento Via Mais, localizado no subsolo do Supermercado Sonda (unidade Vila Pompeia – Rua Carlos Vicari, 155, esquina com a Rua Clélia).
Como usar?
Apresente o tíquete do estacionamento na bilheteria do Sesc Pompeia e pegue um selo de desconto da parceria com a rede Via Mais.
Valor: R$ 12,00, pelo período de 3 horas. Cada hora adicional custa R$ 3,00. O pagamento pode ser feito no primeiro subsolo do supermercado.
Mapa:
Fontes: e-flux|Folha de S.Paulo
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